quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Mundo Paralelo

Hoje eu acordei muito bem. E foi diferente. Estagnei-me perante a janela da sala, encantado com o azul do céu. Pude me perder embalado pelo canto dos pássaros, pelo frescor da brisa, pelo aroma das flores na primavera, pelo orvalho emaranhado em meio a folhas esverdeadas...

Fiquei ali a observar as pessoas caminharem em direção a seus compromissos. Algumas passadas mais velozes, denotando certo atraso, outras mais tranquilas, remetendo ao meu ser naquele instante.

Talvez, nesse momento, meu inconsciente tenha dado valor a minha noite de sono. Serena. Calma. Aos poucos, fui percebendo que as peças do quebra cabeças da vida encaixavam-se tão perfeitamente, a ponto de não precisar criar rebuliços que pudessem desencadear um estresse matutino.

Água a ferver, o pó mais escuro, algumas colheres de açúcar... Lá estava eu, novamente na janela. Acompanhado de uma xícara de café e aquele cigarro matinal, deparei-me com um semblante mais ameno dos problemas recorrentes. Meu olhar, inocente como o de uma criança, nem sequer relutou para encarar, naquele instante, que haviam retificações a serem feitas. Eu precisava rever conceitos, caminhar sob outros trilhos, mas abstive disso, momentaneamente.

Acalentei-me no meu recôncavo e adormeci. Vislumbrei um dia maravilhoso em algumas horas de solidão.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Regenerando-se

Um flerte. A troca de olhares e a reciprocidade sem palavras. Vê-se começar mais um conto da vida...

E a entrega acontece pé ante pé, conhece-se aos poucos, mas a fluidez dos pensamentos é quase que na velocidade da luz (quando não é maior!). As conversas são mais ricas, as coincidências passam a ser destino, o sentimento é remodelado. São totalmente um do outro.

Loucos, insanos, encontram-se presos e livres, de modo a se permitirem tamanha troca. Inexplicavelmente, um depende do outro e vice versa. Alma e carne já tem tatuados os detalhes de cada ser envolvido.

E, ao caminhar dos acontecimentos, ficam envoltos de sensações estupendas, num indo e vindo de informações que os completam, que os atiçam, que os permitem vislumbrar tantas coisas juntos mas, por enquanto, tudo fica preso na imaginação. Pudor (ah, sempre ele!). Ainda não é chegada a hora de ir além.

Incessantemente, são tomados pelos lapsos da mente. As necessidades são outras, não estando completas apenas com o carinho, o toque, o beijo. E, nesse momento, é que se tem consciência de que precisam dar um passo maior, com um nível de intimidade mais extremo, mais carnal.

Corpos se atracando, submetidos às intempéries do sentimento. Um misto de frenesi e aconchego, vulgaridade e companheirismo. Dois corpos em unidade. E aquela estranha empatia ganha novo formato, mais coeso, mais completo. Em termos...

Nesse vínculo, estão agregados alguns impasses: pessoas inconformadas com a felicidades alheia, famílias que não conseguem discernir entre o que pensam e o que a sociedade impõe, "amigos" com seus conselhos e, não obstante, ciúme doentio. É o fim, um drama que concede um longo momento de sofrimento. Sente-se que não há mais retorno, habitando-se um profundo poço de amargura, perdido em lágrimas que não cessam, afogado em extrema desilusão.

A distância entre o ponto final e o próximo capítulo de uma nova história fere, dilacera, atordoa.¹ Faz-se necessária. Todavia, as consequencias de uma passagem são as mais devastadoras. Perde-se o chão, encontra-se o medo e a sensação de que, ao passo que não se enxerga a possibilidade do novo, também não se sabe como procederá, caso ocorra, um novo escrito no livro das peripécias terrenas.

Seu mundo, por ora, acabou...

¹ Trecho adaptado de Rafael Augusto,
meu tutor, minha referência,
meu parâmetro e anseio.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Efêmero

Era apenas a primeira tarde com aqueles novos amigos. Os olhos meio esbugalhados, sensação de um “peixe fora d’água”. Fora obrigado a se enturmar. Observara cada detalhe que o circundava... Imagens, objetos, movimentos...

Colocaram-no numa roda de piadas para tirá-lo do sério. Uma pessoa chamou-lhe com os olhos, e foi recíproco. Um sorriso veio, mas antes se sentira atônito. Via-se uma gota de tensão rolar por sua face. Essa o ensinaria a arte do galanteador. Pôde-se ver um talento nato.

O primeiro passo foi ali mesmo, barbeando-lhe aquela “sujeira” logo abaixo do nariz... E pôs-lhe um par de óculos escuros, charmeado-o mais ainda. E, quando deu as caras, quando o holofote principal cobriu-lhe de luz, sussurros e murmúrios foram percebidos no entorno. A válvula bicúspide liberava mais sangue que o normal...

Era só o princípio de tudo. A partir daí, cada oportunidade era muito bem utilizada, desde corrigir seu jeito desengonçado de andar até a gentileza de se sentar à mesa com uma dama. Contudo, seus olhos analisariam profundamente aquele ser que o ensinara, e não exatamente a ragazza de que tanto falavam.

Certa vez, suas mãos trêmulas foram postas em xeque. A cabeça não se mantinha ereta, aquele corpo esguio em sua frente concebia tantas outras tentações, mas a turbulência de informações não o permitia raciocinar. Simplesmente conduzia tal situação da maneira mais natural (bem, nem tão natural assim...)

Logo, caiu-se em desgosto. Já não queria mais estar ali. Já não se sentia tão bem, não era isso que ele havia proposto naquele primeiro olhar. Só queria ter uma chance de se aproximar. Você veio, e lhe mostrou outro lado que ele já conhecia, só não lhe apetecia tanto. Ele se confundiu, e, conseqüentemente, confundiu-lhe.

E viu-lhe pensativo, lavando corpo e alma. Já não se sentia tão à vontade, pois sua confusão não o deixou enxergar nada além... Aproximou-se, e, com seus próprios ensinamentos, tocou-lhe o rosto. Por um milésimo de segundo, teve a sensação de que poderia ir além, mas era tarde, tarde demais. Ele se perdeu...

"Gosto muito de você, mas agora é hora de gostar mais de mim..."

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Contando os dias

Nunca pensei que a vida pudesse ter tantos obstáculos para a felicidade...

Quis eu, algum dia, acreditar que sim, amizades fossem para sempre. Em vão. Descobri, da maneira mais árdua e dolorosa, que o havia sido dito por Renato Russo era a mais pura verdade. Sei que devemos continuar, por vezes, com as nossas próprias pernas, o que não é fácil, mas se faz necessário no momento.

Talvez eu estivesse vivendo uma ilusão. Pego-me pensando nisso quando estou recolhido no conforto do meu travesseiro cheio de lágrimas. E, mais ainda, pergunto-me, inúmeras vezes, o motivo de me entregar tanto, de querer estar tão presente. Parece, de fato, ser a atitude mais errada, porque nunca é valorizada. Só não vou saber mudar isso, pois características inerentes a cada um de nós não são simplesmente deixadas de lado.

Vivo com a dor (e também o sofrimento que, no meu caso, já não é mais opcional). A perda já tem sido menos difícil, mas nunca é passada em branco, porque alimento-me de sentimentos. Uma vez cogitei a possibilidade de alguém viver no meu tempo, caminhar na velocidade dos meus passos, enxergar da maneira que eu via. Os frutos, vieram depois do término, mas, ainda sim, frutificaram.

Hoje, a situação foi outra: queriam que EU estivesse visualisando e absorvendo informações na forma e no tempo de outrem. Todavia, inconscientemente eu sabia que não adiantaria. Cada um tem o seu "passo".

E, mais uma vez, ao som da voz melancólica do meu ser, mas, dessa vez, sem lágrimas porque a situação não requer, vou respirando de um modo diferente, com um olhar mais seco, com um coração menos entregue e com a alma ferida, porém, coberta. Por quê? Para que não vejam como estou nem sintam pena...

Preocupei muito com você e, no final, esqueci de mim...

"Em algum dia, minha vida parou e eu estava em um mundo paralelo, onde o irreal era tão verdadeiro que me prendeu no tempo..."